sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DE DEUS


A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DE DEUS

A Palavra de Deus é a primeira fonte de toda a vida espiritual cristã. Ela sustenta um relacionamento pessoal com o Deus vivo e com a sua vontade salvífica e santificadora. Daí a importância fundamental da “Lectio Divina”. Por meio dela, a Palavra de Deus é transferida para a vida, projetando sobre esta a luz da sapiência, que é dom do Espírito Santo. 
O documento de Aparecida enfatiza: “A Sagrada Escritura, Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo. É condição indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus. Por isso, é necessário educar o povo na leitura e na meditação da Palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf. Jo 6,63). Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem profundamente? É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus”. 111
“Faz-se, pois, necessário propor aos fiéis a Palavra de Deus como dom do Pai para o encontro com Jesus Cristo vivo, caminho de “autêntica conversão e de renovada comunhão e solidariedade”. Essa proposta será mediação de encontro com o Senhor se for apresentada a Palavra revelada, contida na Escritura, como fonte de evangelização. Os discípulos de Jesus desejam alimentar-se com o Pão da Palavra: querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregá-los como mediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos. Por isso, a importância de uma ‘pastoral bíblica’, entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra, e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra. Isso exige, da parte dos bispos, presbíteros, diáconos e ministros leigos da Palavra, uma aproximação à Sagrada Escritura que não seja só intelectual e instrumental, mas com coração faminto de ouvir a Palavra do Senhor”.112




COMO DEVEMOS ORAR

COMO DEVEMOS ORAR

Oração é uma entrega pessoal a Deus em Cristo. Esta entrega e abertura do coração a Deus constituem a atitude fundamental da oração. Podemos estar em oração quando nos aproximamos de Deus por meio do pensamento ou palavras. "Aproximem-se de Deus, e Ele se aproximará de vocês! (Tg 4,8): Quanto mais perto chegarmos de Jesus, mais seremos capazes de experimentar Sua presença. A oração é uma conversa que envolve falar e ouvir, por essa razão continue sempre a falar com Jesus através de seus pensamentos. Não se preocupe em preparar palavras, fale espontaneamente o que vai ao coração e escute no silêncio o que Ele tem a nos dizer.  Jesus convida-nos a aliviar nossas cargas em oração: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).  
Esta é uma promessa de Jesus: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo" (Ap 3,20). Ele não precisa de qualquer informação, pois conhece melhor do que nós mesmos as nossas limitações, fraquezas, medos e problemas secretos, mas precisamos abrir a porta do nosso coração Àquele que nos ama infinitamente. A cura pode começar quando falamos a Jesus das nossas feridas. Quanto mais percebemos nossas limitações, mais intensa e eficaz será nossa oração, pois a Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes” (Tg 4.6). Assim, em oração podemos louvar, reconhecer nossa pequenez, oferecer e entregar nossa vida pessoal, nossas dificuldades, aflições, angústias...
O Catecismo Católico nos ensina que devemos iniciar nossa oração invocando: “Vinde, Espírito Santo”. "Ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito Santo (1Cor 12,3). Cada vez que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, por sua graça proveniente, nos atrai ao caminho da oração. Se Ele nos ensina a orar recordando-nos Cristo, como não orar a Ele mesmo? Por isso, a Igreja nos convida a implorar cada dia o Espírito Santo, sobretudo no início e no fim de toda ação importante do nosso cotidiano.109
O Papa Bento XVI enfatiza: “Vale lembrar, ao mesmo tempo, também alguns versículos do Evangelho de Lucas, onde o Senhor, em uma parábola, fala de oração, dizendo: “Se vós, que sois mal, dais coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai do Céu dará aos seus filhos o Espírito Santo”. O Espírito Santo – no Evangelho de Lucas – é a alegria, no Evangelho de João é a mesma realidade: a alegria é o Espírito Santo e o Espírito Santo é a alegria, ou, em outras palavras, de Deus não invocamos qualquer coisa, pequena ou grande, de Deus invocamos o dom divino, o próprio Deus; esse é o grande dom que Deus nos dá: o próprio Deus. Neste sentido, temos de aprender a rezar, rezar para a grande realidade, a realidade divina, porque Ele nos dá a Si próprio, dá-nos o Seu Espírito para que possamos responder às exigências da vida e ajudar os outros no seu sofrimento. Evidentemente, o Pai Nosso nos ensina isso. Podemos orar por muitas coisas, em todas as nossas necessidades podemos rezar: “Ajude-me”. Isso é muito humano e Deus é humano, como vimos; por isso é justo rezar a Deus para as pequenas coisas na nossa vida quotidiana”.
Continuando, sua explanação diz: mas, ao mesmo tempo, a oração é um caminho, eu diria que uma escada: devemos aprender mais e mais para que coisas podemos rezar e para que coisas não podemos, porque são expressões do nosso egoísmo. Eu não posso orar por coisas que são nocivas aos outros, eu não posso orar por coisas que ajudam o meu egoísmo, minha soberba. Assim, o orar, diante dos olhos de Deus, torna-se um processo de purificação de nossos pensamentos, nossos desejos. Como disse o Senhor na parábola da videira: devemos ser podados, purificados, a cada dia; viver com Cristo, em Cristo, permanecer em Cristo, é um processo de purificação, e somente neste processo de lenta purificação, de libertação de nós mesmos e da vontade de ter somente para si, está o caminho verdadeiro da vida, se abre o caminho da alegria.110
A Palavra também nos transmite confiança e esperança quando nos assegura: “Quando vocês me invocarem, rezarão a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me encontrarão se me buscarem de todo o coração. Eu me deixarei encontrar e mudarei a sorte de vocês, declara o Senhor” (Jr 29,12-14).. "Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, Ele nos ouvirá" (1Jo 5,14).




109 CIC, 2670
110 Lectio Divina de Bento XVI com seminaristas da Diocese de Roma  19/02/2010

COMO DEVEMOS ORAR


“LECTIO DIVINA”

Lectio Divina” é uma expressão latina que significa ‘leitura divina’, ‘leitura espiritual’, ou ainda ‘leitura orante da Bíblia’. Consiste numa leitura lenta e reflexiva de um pequeno texto bíblico, onde o leitor deixa-se impregnar com a Palavra de Deus em busca de um encontro pessoal com o SENHOR.
Em outras palavras, a “Lectio Divina” não é simplesmente um método de leitura que se esgota no texto da Sagrada Escritura. É na verdade uma “experiência de encontro com o Senhor”, vez que sua dinâmica não se limita à leitura do texto bíblico em si, mas a transcende. É na busca através da Palavra escrita que o Senhor se revela vivo e presente hoje, aqui e agora. A Sagrada Escritura passa a ter uma importância relevante em nosso cotidiano na medida em que a Palavra escrita passa a ser vivenciada e atualizada na vida pessoal. 
A “Lectio Divina” tradicionalmente é uma oração individual, porém, pode-se fazê-la em grupo. O importante é rezar com a Palavra de Deus, lembrando o que dizem os bispos no Concílio Vaticano II, relembrando a mais antiga tradição católica de que conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo. O Concílio Vaticano II, em seu decreto “Dei Verbum” 25, ratificou e promoveu, com todo o peso de sua autoridade, a restauração da “Lectio Divina”, retomando essa antiquíssima tradição da Igreja Católica. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, que, pela frequente leitura das Sagradas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (cf. Fl 3,8), porquanto, “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”.
O Papa Bento XVI, referindo-se à Constituição Dogmática sobre a divina Revelação, “Dei Verbum”, diz: “Este documento imprimiu um forte impulso à valorização da Palavra de Deus e, entre os numerosos frutos desta primavera bíblica, apraz-me recomendar a difusão da antiga prática da “Lectio Divina”, ou ‘leitura espiritual’ da Sagrada Escritura. Ela consiste em permanecer prolongadamente sobre um texto bíblico, lendo-o e relendo-o, quase ‘ruminando-o’, como dizem os Padres, e espremendo, por assim dizer, todo o seu ‘sumo’, para que alimente a vida concreta. É condição da “Lectio Divina” que a mente e o coração sejam iluminados pelo Espírito Santo, isto é, pelo mesmo Espírito inspirador das Escrituras, e por isso se coloquem em atitude de religiosa escuta. A leitura assídua da Sagrada Escritura acompanhada pela oração espontânea realiza aquele diálogo íntimo no qual, lendo, escutamos Deus que fala e, rezando, Lhe respondemos com confiante abertura do coração.”103
Também o Documento final da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizado em Aparecida propõe: “Entre as muitas formas de se aproximar da Sagrada Escritura existe uma privilegiada à qual todos somos convidados: a Lectio Divina” ou exercício de leitura orante da Sagrada Escritura. Essa leitura orante, bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo.104 
Os Padres do Deserto nos lembram da importância primordial da Sagrada Escritura na vida do cristão e da necessidade de nos deixarmos ser constantemente transformados na Palavra de Deus que é o Cristo. Quem pratica a “Lectio Divina” percebe mais sentido e beleza nas coisas e adquire maior equilíbrio emocional para estar bem com a vida e consigo mesmo. Pela Contemplação podemos crescer na comunhão e na adoração a Deus, aumentar nossa confiança no seu infinito amor e potencializar a capacidade de nos entregarmos à sua vontade.



DIRETRIZES PARA A “LECTIO DIVINA” 

Para isso é necessário dispor-se e preparar-se, ou seja, entrar em clima de oração com o coração desejoso de se colocar na presença de Deus a fim de nutrir o nosso espírito: “Como a corça deseja as águas correntes, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus” (Sl 42 (41),2).
Escolher um lugar agradável e tranquilo que proporcione condições para concentrar-se, definir a duração da oração (20 a 30 minutos), selecionar previamente o tema bíblico que deseja meditar e colocar-se em posição corporal agradável e com espírito de humildade fazer o Sinal da Cruz, invocar com fervor o Espírito Santo e pedir para que todos os desejos, pensamentos e sentimentos estejam voltados unicamente para o louvor e adoração a Deus.
O item “Preciosas Promessas e Fonte de Bênçãos” é uma seleção de mais de 400 textos bíblicos que facilitam sobremaneira a escolha da Palavra de Deus para ser meditada. É importante saber que a Palavra de Deus é viva, dinâmica e inesgotável; assim, o mesmo texto bíblico pode dizer várias coisas, a depender do leitor e do seu estado emocional (vide, no índice deste livro, os itens “Preciosas Promessas” e “Como encontrar ajuda na Bíblia”).
É importante saber que a Palavra de Deus é viva, dinâmica e inesgotável; assim, o mesmo texto bíblico pode dizer várias coisas, a depender do leitor e do seu estado emocional (vide no índice do livro: “Como encontrar ajuda na Bíblia”).
Ao término, revisar, louvar e agradecer pela Palavra, ressaltando o que foi mais importante na leitura orante da Bíblia, o texto mais significativo (palavras, frases e imagens), os pensamentos predominantes, os sentimentos de consolação ou desolação e o propósito concreto para vivenciá-lo. Agradecer com um Pai-Nosso.



FASES PROGRESSIVAS DA “LECTIO DIVINA”

1. Leitura  (Lectio)
2. Meditação (Meditatio)
3. Oração Espontânea (Oratio ou “Oração do Coração”)
4. Contemplação (Contemplatio)  

Na “Lectio Divina” estas fases são progressivas, espontâneas e interligadas, numa direção que vai da simplicidade a uma profundidade cada vez mais intensa, até atingir o reino da Contemplação.
Ao examinarmos estas quatro fases progressivas da “Lectio Divina” logo veremos como o elemento de “unidade” caracteriza a Leitura (Lectio), pois envolve a pessoa como um todo: mente, coração e espírito, o intelecto, a imaginação, a vontade e as afeições. A “Lectio Divina” na realidade não é uma técnica a ser aprendida e seguida como um sistema que “produzirá” uma oração profunda. Ao contrário, ela é um processo que ocorre ao longo de um período de tempo, variável de pessoa a pessoa. 
“Na verdade crescemos no amor de Deus como crescemos em qualquer relacionamento íntimo de amor, por meio de um “continuum” de conhecimento, confiança, desejo, entrega de nossas defesas e medos e, por fim, de nosso próprio eu. Esse “continuum” corresponde aos níveis cada vez mais profundos de oração obtidos no processo da “Lectio Divina” com suas quatro fases progressivas: fluindo da Leitura (Lectio) e Meditação (Meditatio) da Palavra de Deus para a Oração Espontânea (Oratio) e daí para colocar-se na presença silenciosa de Deus em amor, a Contemplação”105.

1. Leitura (Lectio): Ler o texto bíblico devagar, com atenção, espírito tranqüilo, sereno e em clima de oração, recolhimento e silêncio interior. Fazer pausas freqüentes e escutar a Deus com a certeza de que a Palavra do Senhor, pronunciada no dia de hoje é “para mim”;

2. Meditação (Meditatio): Nesta fase, rumina-se a Palavra, busca-se perceber o que é que Deus fala àquele que lê o texto bíblico. Procurar aplicá-la às situações concretas da vida, ao modo de pensar e de agir, questionando sempre: o que o Senhor está querendo dizer com essas palavras? Que devo mudar em minha vida? Refletir por que esta frase, palavra, idéia, chama atenção. Fazer uma pausa para se conscientizar da presença de Deus que nos fala através de sua Palavra. “À medida que repetimos a frase ou palavra do texto bíblico que nos chamou a atenção, vai despertando em nosso interior sentimentos, desejos e afetos, tais como: amor, alegria, louvor, adoração, entrega, súplica, confiança, arrependimento; também podem surgir do subconsciente emoções acompanhadas muitas vezes por lágrimas que expressam cura espiritual pela ação terapêutica do Espírito de Deus”106. A fase de Meditação não é mais uma simples leitura, mas uma 'escuta' da Palavra: "Fala, Senhor, que teu servo escuta!" (1Sm 3,9);

 3. Oração Espontânea (Oratio): À medida que o crente vai escutando o que o Senhor lhes fala através de sua Palavra, este responde com uma oração espontânea (esta pode ser de louvor, ação de graças, intercessão, súplica, perdão e de entrega). Nesta fase, com o coração aberto, deve-se deixar máscaras e defesas pessoais e permitir que a ação de Deus sobreponha nosso intelecto. 
Não se preocupe em preparar palavras, fale o que vai ao coração: se for sentimento de louvor, louve a Deus; se for arrependimento, peça perdão; se houver necessidade de maior clareza, peça a luz divina; se houver cansaço e aridez, peça os dons da fé e da esperança. Enfim, a fase de meditação quando feita com atenção e vontade, determinará a oração espontânea da qual nasce o compromisso de estar com Deus e fazer a sua vontade.   É importante estar consciente que somos amados por Deus além de toda medida; por isso, Ele pode permitir que nossas ilusões não sejam obstáculos à sua graça.
Por um longo período de tempo, podemos ficar nos movendo entre a Meditação (Meditatio) e a Oração Espontânea (Oratio), mas por fim uma simplificação gradual pode começar a ocorrer. Nesse momento há cada vez menos raciocínio e especulação com o nosso intelecto, conforme o coração toma as rédeas num simples despejar de amor e desejo, que pode assumir a forma de um diálogo interior. Este momento da oração espontânea que leva à Contemplação não é predeterminado por nossa própria programação.

4. Contemplação (Contemplatio): O mais simples e básico que possa ser dito sobre Contemplação é que ela é a aceitação do convite de Deus para confiarmos plenamente no seu amor, para que possamos ser levados por Ele para além da nossa consciência e do nosso ego pessoal, que impediriam essa jornada misteriosa para seu amor.    
A transição da fase Oratio para a Contemplatio (Contemplação) não é imediata ou total, mas geralmente ocorre ao longo de um período de tempo considerável. O tempo dessa transição não pode ser previsto, vez que Deus lida de forma única e particular com as pessoas; a Contemplação poderá permanecer ativada enquanto a alma se encontrar despreocupada e com o seu intelecto inativado. Nesse fase, muitas pessoas são propensas a inibir e/ou retardar o desenvolvimento espontâneo da Contemplação por uma tendência teimosa a querer constantemente intelectualizar, analisar, julgar e estar “no controle” durante a oração. Essa tendência dificulta e retarda o movimento interior da Contemplação, pois nesse estágio da “Lectio Divina” é essencial que o orante abandone qualquer tentativa de controle pessoal. 
É necessário também saber que a experiência desse movimento espiritual através da leitura orante da Bíblia, que culmina com a Contemplação, não segue uma progressão ou um caminho por nós determinado; por exemplo, ao longo de um período de tempo percebe-se que há ocasiões em que ao fazer a leitura bíblica sente-se logo atraído por uma profunda sensação da presença amorosa de Deus, enquanto outras vezes, mesmo em silêncio profundo, não se percebe nenhum prenúncio da presença do Senhor. 
O despertar da Contemplação pode ocorrer a qualquer momento pela ação do Espirito Santo atuando no coração do orante, levando-o a momentos de deleite e de íntima comunhão com o Senhor e tornando-o mais sensível à santidade e à vivência do Evangelho.
É importante ressaltar que a Contemplação é um dom, uma graça concedida pelo Espírito Santo. É, portanto, um momento que pertence a Deus e sua presença misteriosa, sim, mas sempre presença. É um momento no qual se permanece em silêncio diante de Deus. Se Ele o conduzirá à Contemplação, louvado seja Deus! Se Ele lhe dará apenas a tranquilidade de uns momentos de paz e silêncio, louvado seja Deus! Mas, em todas as circunstâncias, será uma maneira de ver Deus presente na história e em nossa vida!
Um passo básico que nos induz à expressões de louvor e ação de graças é a convicção de que cada homem e cada mulher, na verdade, encerra em si um mundo inteiro, infinitamente precioso aos olhos de Deus. É maravilhoso saber que o criador do universo, o Senhor que fez todas as coisas, nos ama com infinito amor e nada que fizermos poderá alterar este amor. Esta é a razão pela qual devemos reconhecê-Lo como um Pai amoroso, terno e disposto a perdoar o filho que se tinha afastado e deseja recebê-Lo de braços abertos. Sim, Deus nos ama e quer cuidar de nós como filhos queridos, pois o verdadeiro amor implica em querer a plena realização do ser querido; por isso é natural que o Senhor queira cuidar de nossa pessoa, comunicar-nos sua vida divina e levar-nos a uma união perfeita com Ele por toda a eternidade: “Vede que admirável sinal de amor nos deu o Pai em nos chamarmos, como de fato o somos, filhos de Deus” (1Jo 3,1-2).
Outro aspecto importante é saber que a oração jamais pode ser dissociada da vida cotidiana do orante, de suas experiências pessoais e de suas relações familiares e sociais, pois o mesmo Espírito que  promove a graça da oração é o mesmo que atua na transformação gradual do indivíduo num processo de conversão.  
O Catecismo Católico abordando o tema nos ensina que a Contemplação é um dom, uma graça e não pode ser acolhida senão na humildade e na pobreza. A Contemplação é olhar de fé fito em Jesus. “Eu olho para Ele e Ele olha para mim”... Seu olhar purifica o coração. A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos de nosso coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua verdade e de sua compaixão por todos os homens. A Contemplação considera também os mistérios da vida de Cristo, proporcionando-nos “o conhecimento íntimo do Senhor”, para mais o amar e seguir”107. Assim, quer saibamos ou não, a Contemplação é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. “És tu que lhe pedirias e Ele te daria água viva”. (Jo 4,10). A oração é, portanto, um dom da graça e uma resposta decidida da nossa parte. Supõe sempre fruto de um esforço e de uma cooperação humana108. O diálogo na Contemplação é possível quando Deus e o homem se buscam mutuamente e se encontram no amor. A Contemplação não é fruto de técnicas refinadas, repetição de mantras ou ioga, mas um dom de Deus que tem na humildade e na fé seus fundamentos. 
Na Contemplação fazemos um mergulho na tranqüilidade do nosso interior, onde o silêncio e quietude não podem ser violados pelas exigências e conflitos externos e ninguém de fora pode adentrar. É o lugar em que o próprio Deus habita e somente nós, em particular, podemos ter acesso. É necessário desejarmos ardentemente ficar a sós com Deus para sentirmos o seu amor apoderando-se de nós no silêncio de nossos corações e procurarmos corresponder ao seu grande amor por nós: “Descanse junto ao Senhor e aguarde por ele com paciência” (Sl 37(36),7). 
A redes­coberta do valor do silêncio é um dos segredos para a prática da oração, por isso é necessário criar um clima de recolhimento e silêncio interior, pois as preocupações do cotidiano podem dificultar a oração. Não se consegue meditar com o coração emocionalmente agitado, inquieto e perturbado. Por essa razão é preciso silenciar a mente inquieta, acalmar as paixões e dispor o coração na paz, criando uma verdadeira consciência de estar na presença do Senhor, que é condição prévia para favorecer um momento de contemplação, que requer de quem reza o impulso da mente e do coração.
Há autores que recomendam técnica de relaxamento muscular como meio de facilitar o silêncio interior e a quietude da mente. A técnica consiste em respirar devagar e profundamente e concentrar a atenção no fluxo de ar que entra e sai dos pulmões; observar em cada respiração a intensidade, o ritmo, os movimentos de expansão e contração do abdome resultantes da ação do diafragma. Em cada movimento respiratório, por ocasião da expulsão do ar dos pulmões, comandar mentalmente o relaxamento dos diversos grupos musculares do próprio corpo que se encontram parcialmente contraídos ou tensionados;  esse comando do relaxamento deve ocorrer lentamente durante os diversos ciclos da respiração, obedecendo uma seqüência que inicia pelos músculos do rosto, testa, mandíbula, pescoço (nuca), ombros, braços, mãos, abdome, quadril, pernas, pés e pontas dos dedos. À medida que se respira devagar, profundamente e com os músculos completamente soltos e relaxados sente-se uma sensação de bem-estar fluir através do corpo em direção às mãos e pés, chegando até à ponta dos dedos; Enquanto sua atenção se concentra na respiração, procure desligar-se completamente dos pensamentos e lembranças; ou seja, quando a mente distrair-se ou perceber recordações, preocupações, ou planos, trazer logo de volta sua atenção aos movimentos da respiração sem lutar contra os pensamentos; simplesmente abandone-os quando eles surgirem. Desta maneira consegue-se silenciar a mente e obter as condições necessárias para iniciar a oração. 



103 Papa Bento XVI - Angelus, 6 /11/ 2005 - http://www.verbonet.com.br/conteudo/  
104 DAp § 249
105 Thelma Hall - Lectio Divina: O que é, como se faz
106 Dom Thomas Keating - Intimidade com Deus  
107 CIC Nº 2713, 2715;
108 CIC Nº 2559; 2561; 2725